sexta-feira, abril 16

japanese girl


Nunca fui ou me senti uma típica japanese girl, primeiro - morei muito tempo em um lugar de baixa população oriental, segundo - eu não gostava de ser diferente, terceiro - não me adaptava a rigidez nipônica. Não se tratava de não aceitar os costumes tradicionais, mas o de não aceitá-los da maneira 
imposta como a não convivência com outras pessoas que não tivessem olhos puxadinhos...

Quando cheguei ao Japão, confesso que no primeiro buraco, caí na típica armadilha de brasileiros em países estrangeiros, comparei inevitavelmente as diferenças entre brasileiros x japoneses. Aqui abro algumas aspas, parênteses e retiscências para esclarecer que este relato é uma impressão pessoal de uma experiência pessoal, sem opiniões ou defesas radicais contra este ou qualquer forma de viver.


'É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi...' a letra de Caetano para Sampa cairia como uma luva, ainda era tudo muito diferente, estrangeiros rareavam nas cidades, era muito estranho andar de mãos dadas com o namorado, namorar em local público então, nem pensar. E não estou me referindo só ao interior, mesmo em Tókio, o pequeno gesto de mão dadas chamava atenção, os olhares eram mais contidos, mas eram olhares. A discriminação feminina era outra coisa que me assustava, presenciei muitas japonesas seguindo maridos a um passo de distância em sinal de respeito (?) e também, ainda bem, vi japonesas discursando calorosamente contra este tipo de costume, dizendo que só se casariam com um estrangeiro ou seguiriam trabalhando, não deixa de ser triste. Sem falar aquela inesgotável crise existencial, no Brasil eu era a japa, no Japão sou gaidin (estrangeiro)...


Aos poucos fui conhecendo o jeitinho nipônico, digamos um pouco diferente dos nipo-brasileiros, refiro-me por exemplo o meu avô, que um dia até pendurou minha tia de ponta cabeça porque não queria que ela se casasse com um gaidin (?), volte e meia, pegava ele balançando a cabeça, acho que ficou convencido que o Japão já não era o mesmo...

Para mim, ela é uma terra de opostos. Cultiva muito a tradição, embora eu não conheça um país tão aberto a outras culturas como o Japão, no sentido de realmente absorver tudo isso e mudar coisas tão absolutamente arraigadas. Dou um exemplo, lembra aquilo que comentei lá em cima sobre andar de mãos dadas? Passados alguns anos, quando retornei para lá já era bem normal ver gente namorando pelas ruas, trocando carinho. Cada vez mais a mulher ganha espaço mostrando seus talentos de um jeito bem único. Não é perfeito, longe de ser...


Aos poucos fui sendo conquistada pelo jeito prático de enxergar soluções, a simpatia e a antipatia do 8 ou 80*, o respeito pela terra, pelo que é certo e errado, sem jeitinho...as estações bem definidas, o tira e põe de sapato na entrada, as exposições de flores na primavera, os sakuras e seus rituais de picnic, o carinho demonstrado num bentô bem feitinho, o corte perfeito de um quimono estonteante, a chegada do trem ou metro exatamente no horário previsto, inclusive os minutos, a qualidade de tudo, a maneira como o consumidor é tratado, isso foi acalentando dentro de mim um certo respeito pelo país e seu povo, não apenas isso, uma admiração conquistada e carimbada que me fez olhar que não havia apenas rigidez e encontrar um pouco disso tudo em mim...


Euzinha, defensora ferrenha da bossa nova e da mpb, do gingado brasileiro e das riquezas naturais e gatronômicas deste meu Brasil brasileiro, acho que só pude olhar tudo isso com olhos de quem ainda vê o Brasil como irremediável e definitivo lar, apesar de tudo. E desejar muito que algumas coisas funcionem por aqui, não da mesma maneira, mas da nossa maneira e para todos.

*impressão pessoal: japonês é bem 8 ou 80, se ele gosta de você, faz de um tudo, te enche de presentes, leva prá passear, apresenta a família...se ele não gosta, sai de baixo que vem chumbo, nem com reza braba se reverte isso!

Ps: Todas as fotos deste post são minhas nos áureos dias de fotógrafa amadora em terras nipônicas.

23 comentários:

  1. Amei esta postagem! Eu nunca estive no japão e em toda a minha vida convivi muito pouco com a cultura (acho que paulistas tem mais oportunidades, aqui no Rio há poucos japoneses e descendentes). Mas é uma cultura interessante demais, riquíssima e bela. Bom ouvir de alguém daqui como experimentou estar lá.
    Adorei.
    Beijos.

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  2. Tb Amei teu post de hoje, eu já tive um tiquinho assim de ir pro Japão, na época em que meu padrinho era da Marinha Mercate, ele ia muito pra lá, e me prometeu que iria me levar. Só que quando eu estava no último ano do segundo grau surgiu a oportunidade e como eu era, eu disse era, a queridinha da família porque nunca tinha repetido de ano, ele falou que não ia ser dessa vez, podia ser na outra para eu não repetir um ano, ora bolas, eu tinha 16 anos e podia repetir né?! Só a honra em conhecer um país que eu adorava a cultura já valia a pena estudar tudo de novo. Mas não rolou e depois ele saiu e eu fiquei chupando o dedo. É bom ouvir quem tem propriedade de falar do país, pois vc já esteve lá e vive essa cultura ainda.

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  3. Cris querida, adorei o post. E acredite eu sei bem como vc se sentiu lá! Não por mim, mas pelo meu esposo que tem dupla nacionalidade francesa e brasileira.. Qdo ele chegou na França, mesma coisa: ele era tudo lá menos francês, falava diferente e pensava diferente. Aí ficou meio confuso rs...
    Eu te chamo de japa porque acho carinhoso, mas se vc não gostar me fala tá? Mas tu é uma japa com gingado com certeza! E vê se japa do japão sabe rodar a baiana em casa? Jamais rs... Que japonês é 8 ou 80 eu já tinha percebido na pouco convivência com o pessoal da colônia na minha cidade, mas adoro qdo eles são 80, e respeito e admiro os 8!
    Te adoro viu japinha fofa do meu coração.
    beijo
    Cynthia

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  4. Nossa nunca imaginei que os japoneses fossem tão rígidos Cris, suas fotos são lindas, ameiiiii... Vivendo e aprendendo! Bjokas

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  5. Puxa Tati, na verdade não sou nenhuma expert, mas foi uma ótima experiência.bjo!

    Que pena não ter concretizado a viagem, Ma!BjO!

    Ô Cy queridona, não me incomoda de jeito nenhum, quanto a isso já resolvi a muito, não demorou para eu descobrir que todo mundo é diferente e de perto ninguém é normal! Te adoro, bjo!!

    Meu avô era bem rígido, mas nada que o tempo não amoleça. Que bom que gostou das fotos, são meus preciosos!! Bjo!

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  6. Oi Cris,

    Muito lindas suas fotos, não entendo nada de foto, mas achei que eram de "profissional", parabénse e é bom saber coisas de outros países com um texto tão gostoso de ler!
    Beijos
    Lola BH

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  7. Bem, não sei, acho que em alguma vida passada já fui uma japonesa, me sinto atraida por essa cultura, claro que não me aprofundei como voce para sentir o cotidiano de vida, mas no geral gosto muito, sempre tive amigas de olhos puxados, são pessoas que voce sabe que pode contar. Uma vez participando do ritual da chegada da primavera chorei ao ver a dança e a música, outra vez num festival de karaoke ouvindo uma outra musica desabei a chorar...voce pode explicar?...Bem, acho que a tendencia universal é a "miscelania" de raças porque somos seres humanos independente de qualquer coisa.
    Um grande abraço.
    marilene.

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  8. Oi Lola, prazer te ter por aqui, obrigada pelo carinho!

    Olá Marilene, também como você amo muito tudo isso, emociona-me toda a cultura, sou fã do design, do estilo, da música, da tradição, mas principalmente a perseverança, a disciplina com que tudo é conduzido, sem dúvida há fascínio nisso tudo...bjo!

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  9. Cris, entendo perfeitamente o que vc diz, bem menos radical que morar no Japão, fomos morar em Portugal e foi bem mais complicado do que eu imaginava, me sentia desrespeitada por eles em várias situações, chegou um ponto que decidi que só ia falar em ingles, não queria mais ser brasileira ali, mas, aos poucos fui entendendo o jeito deles, a cultura, que é diferente, enfim, olhando tanto eles, quanto nosso Brasil, com outros olhos, mais consciente e de forma mais interessante!! Beijos e toda experiência é prá lá de válida!!

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  10. CRIS QUERIDA,
    UMA GRANDE AMIGA MINHA MORA ATUALMENTE NO JAPÃO,ELA MORA UMA TEMPORADA LÁ E OUTRA AQUI,ELA SEMPRE FALA DOS COSTUMES E DIFERENÇAS DE LÁ,JAPÃO ESTÁ ENTRE UNS DOS PAÍSES QUE ADORARIA CONHECER.
    BEIJOCAS E UM ÓTIMO FINAL DE SEMANA

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  11. Cris, por isso crescemos, quando viajamos e conhecemos outras culturas: quem se dispuser a descer do salto, tirar os sapatinhos, experimentar a comida, ouvir as histórias e músicas com apetite voraz, sairá dessa experiência mais rico, ou então, aprenderá a se adaptar mais facilmente.
    Há diferenças grandes, sim, o que não significa que uma cultura seja melhor que outra, apenas, diferentes. Quem passa por isso, precisa ser desprendido, o que, por si só, já é um grande exercício de coragem.
    Triste é constatar que há pessoas que têm esse privilégio de sair e nada aprendem. Quando estão fora, não se adaptam porque só na origem é que tem coisa boa. Quando retornam, ficam lembrando o tempo todo que lá fora é que presta( nem tanto porque gostou, mas só pra dizer que é viajado!).
    Você detalhou bem a sua experiência e impressão. Na verdade, somos assim também. Ninguém é amigo de ninguém, de cara! É que muitas vezes nos acostumamos com a superficialidade nas relações, mas conquistar confiança é um processo longo, que exige empenho, não é?
    Que bom que vai carregar essa boa experiência com você, ao longo da vida.
    Abraço, querida!

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  12. oioi, cris! muito bom seu post! quando fui ao Japão tb era uma crise de identidade: lá era brasileira, mas aqui sou japa. sempre achei engraçado!!!
    adorei tudo que escreveu, adorei as fotos!
    beijocas,
    da harumi

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  13. Oi Ro, é bem isso mesmo, o legal seria poder trazer as coisas boas para cá, né?

    Leila, acho que você iria adorar! É sempre bom conhecer novas culturas, mas lá há muito a explorar...

    Oi Lá, acho que essa é a palavra que começa a desvendar as superficilidades de outra cultura, ou de uma amizade, quando se dá chance para isso, não é?

    Oi Harumi, também acho engraçado e os micos pagos por não saber falar a língua direito?

    Bjo meninas e obrigada!!

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  14. Opa, agora deu certo, mas Cris, a Laély disse tudo.
    bj

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  15. Ai, Cris, sou sua fã no. 1!!
    Não sei mais a ordem de posts que vc escreve que eu mais gosto! Este aqui, e com suas fotos!!! Uau! A voz de Arnaldo Antunes e sua sinceridade em contar suas impressões a respeito da terra do Sol nascente... sem mais plavras, só emoção.
    Grande beijo a você e a sua generosidade nipo-brasileira.

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  16. Oi Susi, a Lá é porreta mesmo, como diria a Eliene!

    Cris querida, puxa! Fico super feliz de ler isso, pois fiquei em crise de insegurança depois que postei o texto acima, fiquei com medo de ser mal interpretada! Muito bom ler tantas opiniões do texto, também gosto muito das fotos, às vezes parece que nem fui eu que tirei! Rsrsrsr!

    Você tá Arnaldo hoje, hein?!!

    Bjo meninas, bom fim de semana!!

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  17. Primeiro amei suas fotos ,lindas .
    Ainda vbem que muita coisa mudou ne ? Tem japa modernibnho que anda so de maozinha dada ,acho bunitinho ,tem marido que ajuda no SOJI ,mais concordo plenamente com 8 ou 80 ,eita partinha dificl ,mais gracas a Deus ,so tem gente do bem no meu caminho ,se gaijin sempre serei ,apesar que ultimamente tenho recebidos "elogios " NIHON JIN POI eu????Uma senhora conversando comigo so depois de meia hora que ela descobriu que era eu era brasileira ainda assim porque eu falei ,gente com esse carao de gaijin ,ela so podia nao ter uma visao muito boa ,mais tem explicacao ,so convivo com Re de brasileiro ,quando fui pro Brasil todos me estranharam ihhhh virei uma meio la meio ca .
    bjim
    bom fim de semana

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  18. Gostei também! Deu pra sentir-se pertinho do Japão... E mais um talento! Te admiro muito Cris,no meu blog tive um desabafo sobre as pessoas que dizem que não vou conseguir ser mãe e designer ao mesmo tempo, e você é um exemplo pra mim também, de que é possível!

    Bjo

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  19. Oi, Cris,

    Veja que coisa curiosa: eu não tenho ascendência japonesa, mas é exatamente assim que vejo o Japão. Ao longo da minha vida, desde criancinha, me foi dado conviver bem de perto com japoneses e descendentes e só posso dizer que me afeiçoei a todos eles.

    Beijinho e bom fim de semana.

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  20. Sou brasileira,do RJ,moro no Japao e acho que vc esta passando uma imagem muito negativa do Japao para as pessoas que nao conhecem bem esse pais tao incrivel e que tem pessoas maravilhosas como em qquer parte do mundo...
    Mitie de Gunma-ken

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  21. Este comentário foi removido pelo autor.

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  22. Olá...estava passando e resolvi parar...nossa q fotos maravilhosas...adoro tirar fotos...nada profissional..rsrsr...
    vou virar sua seguidora...gostei de td em seu blog, o meu é bem novinho...passa lá pra conhecer e participar do sorteio de inauguração
    bjos Viviane...Colombo /Pr

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sou toda ouvidos!!!

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